Betty

...Sua taça tremulava, seu rosto refletido no vinho cor de sangue ia perdendo a nitididez. Sua mente divagava entre as vozes do bar onde estava e as vozes do passado.
Quando a porta se abre, só paira o olhar por sobre ombros vizinhos graças a momentâneo ritmo ao qual todos se viram para admira-la. Sim, era Betty.
Ele piscou duas vezes, na segunda ela não estava la. Seria um delirio? - não.
La estava ela, toda radiante no balcão, podia até mesmo sentir seu cheiro doce e suave, um perfume da noite exalado de sua pele morena. Seu cabelo, com a cor de uma onix negra, fazia papel de cortina contra o insessante desejo do deleite de seu pescoço, assim como o véu que separa o mundo visivel do invisivel. Parecia-lhe mais facil transpor-se em qualquer mundo do que suportar um mundo onde ela existe e seu corpo não lhe pertença.
Cada movimento era uma dança, e todos assistiam a este show, onde olhos de luxuria se deitavam naquela pele que parecia aquecer aquela noite, onde havia balburdia, agora havia silêncio.
Não sabe-se porque, ou se foi um leve delirio, em função deste desejo ardente, mas sua cabeça vira-se lentamente e seus olhares se encontram.
Há um ar de desafio, olharam-se firmes, encanrando-se, o coração disparava parecendo exercer tanta pressão em seu corpo, que lhe faltava ar. Um meio sorriso imprime-se no lado esquerdo daquela boca carnuda. Seu olhar que dirigiu-se ao chão, o movimento de sua mão colocando o cabelo atraz da orelha, tudo aquilo fez o tempo parar.
Ela descruza as lindas pernas quase desnudas e num movimento seguro da-lhe as costas e sai.
O tempo que parecia haver parado agora volta a seu ritmo. Só sabe que tudo foi real porque ainda resta aquele doce cheiro incediando o ar pesado, e ainda há um copo com a marca mais sanguinea que seu vinho.
Ele jamais amou novamente e sentiu que sua vida poderia acabar, estava completa.

One Response so far.

  1. Marossa says:

    AH:..el amor...el amor:)
    Este cuento parece escrito por un romántico caballero tímido que aún sin declarar su amor ,siente que su vida ya tiene sentido para siempre.
    Me trae a la memoria un poema de una poeta brasileña, Cecilia Meireles:

    Basta-me um pequeno gesto,
    feito de longe e de leve,
    para que venhas comigo
    e eu para sempre te leve...

    - mas só esse eu não farei.

    Uma palavra caída
    das montanhas dos instantes
    desmancha todos os mares
    e une as terras mais distantes...

    - palavra que não direi.

    Para que tu me adivinhes,
    entre os ventos taciturnos,
    apago meus pensamentos,
    ponho vestidos noturnos,

    - que amargamente inventei.

    E, enquanto não me descobres,
    os mundos vão navegando
    nos ares certos do tempo,
    até não se sabe quando...

    e um dia me acabarei.

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